III Ranking Cúpula da Cachaça: saiu o resultado. Confira e saiba o que ele revela

Enfim, terminou mais um Ranking Cúpula da Cachaça. Nessa terceira edição, o maior concurso de cachaças do país – e, por extensão, do mundo – se transformou, sem que isso tivesse sido planejado numa celebração da crescente diversidade do mercado do destilado nacional brasileiro. Os resultados estão logo abaixo. Querendo ir direto, basta pular uns parágrafos. Mas, antes, chamo a atenção para alguns fatos que podem ser vislumbrados através deles.

Notem, por exemplo, os estados de origem das primeiras colocadas. Entre as sete primeiras colocadas nas brancas, temos uma capixaba, uma pernambucana, uma paraibana, uma fluminense, uma paulista e duas mineiras.

Entre as cinco primeiras na categoria Ouro, o fenômeno se repete: uma mineira, uma fluminense, uma paranaense, uma paulista e uma gaúcha.

Parece combinado, não é? Tipo “para todo mundo ficar feliz”, cada um com uma medalhinha…

Mas não foi. Como o leitor deve saber, a terceira fase do concurso é uma degustação às cegas, sem a mínima possibilidade de obtenção de um resultado “politicamente correto”, feito para agradar a gregos e baianos.

Prova disso é que, em versões anteriores do Ranking, a Cúpula recebeu críticas de “puristas” pouco versados em questões de mercado por ter premiado com posições honrosas (boas) cachaças de marcas industriais (Ypióca e 51), naquelas surpresas que tornam esses concursos mais divertidos e polêmicos.

(Nesse ponto do texto, percebo que ainda não contei – ou lembrei – ao amigo leitor que o redator é um orgulhoso membro da Cúpula da Cachaça e, como tal, um dos 12 felizardos que participou da degustação às cegas das 50 cachaças finalistas do Ranking, no fim de semana passado.)ranking cúpula da cachaça 2

O que explica esse resultado tão espalhado geograficamente? É simples. O Ranking Cúpula da Cachaça, com suas três fases, é apenas reflexo do que acontece no mercado. Os cúpulos, longe de serem os 12 deuses do Olimpo da Cachaça, são apenas 12 apóstolos devotos da Cachaça.

Explico…

A primeira fase do Ranking, que começa com as cerca de 4 mil cachaças registradas no Ministério da Agricultura, faz um grande filtro do qual saem 250 rótulos que realmente são os mais relevantes no mercado – com uma ou outra variável comandada pela teoria do caos.  Ou seja, cachaças que tem consumidores, de fato.

Para uma cachaça sobreviver ao filtro da primeira fase, ela precisa de pouca coisa: com algumas dezenas de devotos que tenham se prestado a votar nela, ela garantiu um lugar na segunda fase. Os rótulos que não conseguiram atingir essa meta não deveriam duvidar de sua qualidade, mas, com certeza, deveriam reavaliar como anda a sua relação com seu cliente final, o consumidor de cachaça – esse ser mais raro do que a gente gosta de imaginar que ele seja.

A segunda fase é aquela em que os trabalhadores da cachaça – nesse ano, 39 deles, que se juntaram a oito dos 12 cúpulos – definem, entre a escolha dos consumidores, quais são as melhores, ou mais relevantes, cachaças do momento.

Imagem: Maurício Motta
Imagem: Maurício Motta

Aos cúpulos sobra apenas a tarefa de ranqueá-las. Uma tarefa menos relevante, no sentido de que passar pelas duas fases e se inscrever no grupo das 50 finalistas já é um feito capaz de alavancar o prestígio e os negócios de todos os rótulos que o alcançam.

E o mercado definiu, por meio do ranking, que a produção de cachaças top de linha se espalhou definitivamente, ocupando desde o Rio Grande do Sul (com as várias Weber Haus, entre outras) até o Pará (com a estreante Indiazinha). Houve representantes de  12 estados e do Distrito Federal entre as finalistas do III Ranking. Quatro anos atrás, no I, havia apenas sete!

Outra definição: o carvalho ainda é o rei. Sete das dez cachaças com melhor nota do ranking passam por essa madeira. O que explica? Na prática, a quase totalidade das cachaças ultra premium do mercado, aquelas que recebem maior atenção e investimento de seus produtores, têm o carvalho na sua composição.

E vamos combinar: se essa madeira não fosse boa de serviço, ela não seria usada por todos os principais destilados do planeta, com exclusividade, sendo a cachaça a exceção, com sua ampla diversidade. O fato é que quatro em cada dez cachaças que são envelhecidas passam por carvalho. O produtor, claro, faz essa opção por exigência do seu consumidor.

Mas, atentem para a boa notícia (e, digo boa, porque sou entusiasta das madeiras brasileiras e das branquinhas e acho que o mercado não precisa de mais cachaças em carvalho, já tendo uma pletora de belos exemplares delas nas prateleiras): “Houve uma queda drástica na quantidade de cachaças oferecidas nesta madeira (carvalho), 34% nesta terceira edição contra 62% na edição de 2016”. O levantamento é do cúpulo Maurício Maia, outro entusiasta das branquinhas.

Portanto, há muito a ser feito, mas é certo que estamos na boa senda da diversidade. Mais sabores, novos blends, mais regiões produtoras se destacando no Ranking. Isso traduz um mercado amadurecendo, se profissionalizando e trazendo novos players com capacidade de agregar novos conceitos aos valores tradicionais do nosso destilado.

E, para finalizar, como devoto e cúpulo, quero render minha homenagem aos produtores brasileiros. Falo por mim, mas ouvi de outros companheiros a mesma constatação: vivemos na Macaúva, nos dois dias da degustação às cegas, uma experiência espetacular, quase trasncendental.

Somos todos profissionais experimentados, mas o nível do que nos foi apresentado foi altíssimo, a ponto de impressionar a todos. Desde a primeira bateria de brancas cheias de sabores e delicadezas, um nível absurdamente alto se impôs, e assim a coisa se seguiu até o equilíbrio perfeito das cachaças longamente envelhecidas em carvalho, depois de passar pela pujança dos bálsamos e jaqueiras. Ouso dizer que nunca, em qualquer tempo ou lugar, um devoto experimentou tanta cachaça boa em tão pouco tempo.  Para mim, o nome disso é felicidade.

 

Por Dirley Fernandes

Fonte: https://xn--devotosdacachaa-rmb.com.br/2018/02/02/iii-ranking-cupula-da-cachaca-saiu-o-resultado-confira-e-saiba-o-que-ele-revela/

 

Deixe um Comentário